Conto: Uma prosa no parque

Conto: Uma prosa no parque

– É uma delícia ver as crianças brincarem. Adoro parquinhos. – fala Sandra ao se aproximar de uma das mães.

– Também gosto.  Maria responde sem dar muito atenção.

– Quando meu filho era bem pequeno não tínhamos um parquinho perto de casa, sempre senti falta disso. – É bom mesmo. – Aquele ali de azul é o Guilherme? Onde estão Mariana e André? – Sandra não desiste de tentar manter uma conversa com Maria. – Sim, é ele. Hoje tiveram uma atividade na escola. – Maria responde sempre olhando para frente, vendo o filho brincar. – Guilherme é mais bonito ao vivo que nas fotos das revistas. – diz Sandra. – O meu está hospitalizado… – Que pena! Tenho certeza que logo se recupera e virá brincar com as crianças! – Câncer. – Ah! – Espera por um transplante de medula óssea. – Logo encontrará alguém compatível. – Sim, estamos otimistas. Acreditamos que um meio irmão possa ajudar. – Claro, que bom ter alguém próximo de vocês. – O problema é que a família do irmão não sabe que ele existe. – Hum… o pai não assumiu o filho, o abandonou? – Não exatamente, mas agora eu preciso da ajuda deles. – É a vida de uma criança e um processo até simples, vão ajudar sim. – Então, posso contar com sua autorização para o Guilherme fazer o exame de compatibilidade? – O quê? – Isso mesmo que você ouviu! – Quem é você? – Eu sou Sandra, a ex-mulher do Pedro. – Você está dizendo que o Pedro teve um filho com você e escondeu isso de mim todos esses anos? – Não! Estou dizendo que meu filho é filho do Pedro, irmão do Guilherme. E ele está com câncer e precisa de ajuda. – O Pedro nunca me falou de um filho, como ele podê esconder isso de mim? – Ei, ele não escondeu nada. Ele não sabe que tem um filho! – Quantos anos ele tem? – Maria se afasta, procurando por Guilherme nos brinquedos. – Não se preocupe, quando engravidei vocês ainda nem se conheciam. Pablo está com 12 anos. – Pedro não sabe do filho de 12 anos! Ele perdeu o crescimento do filho, ele vai ficar louco! Como, por que isso? – É muito fácil esconder uma gravidez e filho morando no outro lado do mundo. Eu fui para Hong Kong grávida de Pedro, nunca mais falei com ele. Lá me casei e criei Pablo. – Pedro me falou que vocês já estavam separados fazia anos quando você viajou. – Só um transplante de medula óssea pode salvar a vida do meu filho e sua melhor chance é com Guilherme. – Sandra, desconversa e volta a lembrar do filho. – Pedro não sabe que tem um filho? Como você pode fazer isso com ele! – Eu não estou preocupada com o Pedro! Eu preciso que você autorize o Guilherme fazer o exame de compatibilidade com o Pablo. – Eu não acredito que você impediu um homem como Pedro de usufruir de seu próprio filho! – O que me importa é a vida do meu filho. E por isso procurei você. Conheço sua fama de politizada, participativa, que ajuda os outros, enfim. Eu preciso de sua ajuda, o Pablo precisa da ajuda do Guilherme. – Guilherme! Vamos, tá na hora! – Maria grita em direção ao filho. – Já? Hoje nem tem aula. – diz o menino. – Oi Guilherme! Você é um menino tão bonito, parece muito com o pai. – Sandra para Guilherme. – Obrigada. Vamos? – diz Maria. – Guilherme? Eu tenho um filho que vai adorar conhecer você. – fala Sandra se dirigindo ao menino. – Ele joga futebol? – Guilherme responde interessado. – Humm…não é nada bom, ele gosta mesmo é de brincar no game. Aí ele manda bem. E você? – Ah, se minha mãe deixar a gente pode jogar lá em casa, né mãe. – É… seu pai vai adorar tê-lo lá em casa! – Maria comenta, já saindo com o filho.

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